Um poema de Pierre Reverdy

Imagen

 Juan Gris, “Portrait of Pierre Reverdy,” c. 1918

Casal e cadência [versão 1, música]

O fio que sustenta o universo

acaba de se romper

O fio que sustentava a terra

queimou

Uma estrela fulgaz ao passar o tostou

            Quem dança ao fundo do céu

            Quem não conhece o anteparo

As letras que formavam palavras ao léu

E que pesavam no baloiço embalo

            Quem não cai

            E olha para o chão

            E o outro para os ares

Todos os que estão lá no alto

E abaixo descem

Com anéis de atocalto

Quase todos se assemelham

E a luz em suas mãos camada a camada

Treme pela noite mais que à alvorada

No momento em que elas choram

As estrelas sobre a estrada

De lembranças desencarnam

 *

 

 Casal e cadência [versão 2, literatura]

 

O fio que sustenta o universo

acaba de se romper

O fio que sustentava a terra

foi queimado

Uma estrela fugaz o queimou ao passar

                        Quem dança ao fundo do céu

                        Quem não conhece a prudência

As letras que formavam palavras artificiais

E que pesavam na balança

            Quem não cai

            E olha até o chão

            E o outro que olha até o ar

Todos esses que estão lá em cima

E abaixam agora

Com anéis em suas mãos

Quase todos se parecem

E a luz em suas mãos

Treme pela noite mais que pela manhã

No momento em que elas choram

As estrelas sobre o caminho

Umas lembranças que morrem

– ‘Sources du vent’; trad. Nina Rizzi

***

 

Couplet et cadence

Le fil qui soutenait l’univers

vient  de casser

Le fil qui soutenait la terre

a été brûlé

Une etóile filante em passant l’a brûlé

                        Celui que danse au fond du ciel

                        qui ne connâit pas la prudence

Les lettres qui formaient des mots artifciels

Et qui pesaient dans la balance

            Celui qui ne tombe pas

            Et regarde par terre

            Et l’autre qui regarde en l’air

Tous ceux qui sont là-haut

Et maintenant descendent

A leur main des anneaux

Presque tous se ressemblent

Et la lumière dans leur main

Tremble le soir plus qu’au matin

Au moment où elles pleurent

Les étoiles sur le chemin

Des souvenirs qui meurent

–          REVERDY, Pierre. “Couplet et cadence, IN: ‘Main d’œuvre: poèmes 1913-1949’; Mercure de France, 1989. p. 111. 

Leave a comment