Homem funesto de chaves noturnas e corpo nu junto ao rio profundo de brilhantes escarradas. Homem de olhos antimíopes exploradores de infinidade. Homem de rosto em sombra e corpo gênio abstrato. Homem sem medo de pena em mão nem de olhos em ser nem sorriso supremo. Homem deus chegou só de infinitudes assombrofantasmais ornado de lágrimas de superioridade tímida. Homem destruidor de tabus e céus estrelados. Homem de frágeis vestidos que caem deixando irmãos nus. Homem sem alimento para conceder aos que buscam. Homem de altos mares de sulcos desolados. Homem-barco branco. Homem que arrancou o vômito para sepultar o mito. Homem de tempo e espaço que arrancam sensatas loucuras. Homem super-homem, frieza e calor em conjunção. Homem.
[tradução de nina rizzi]
*
DÉDALUS JOYCE
Hombre funesto de claves nocturnas y cuerpo desnudo junto al río profundo de brillantes escupidas. Hombre de ojos anti-miopes exploradores de infinidad. Hombre de rostro en sombra y cuerpo genio abstracto. Hombre sin miedo de pluma en mano ni de ojos en ser ni sonrisa suprema. Hombre dios llegaste solo de infinitudes asombrofantasmales ornado de lágrimas de superioridad vergonzante. Hombre destructor de tabúes y cielos estrellados. Hombre de frágiles vestidos que caen dejando hermanos desnudos. Hombre sin alimento para otorgar a los que buscan. Hombre de altos mares de surcos desolados. Hombre-barco blanco. Hombre que arrancaste el vómito para sepultar el mito. Hombre de tiempo y espacio que arrancan cuerdas locuras. Hombre superhombre, frialdad y tibieza en conjunción. Hombre.
para não falar de Nova York e do West Village com rastros de garotas estranguladas
– quero que um negro me estrangule – disse
– o que você quer é que te estupre – eu disse (oh, Sigmund! com você se acabaram os homens do mercado matrimonial que frequentei nas melhores praias da Europa)
e como sou tão inteligente que já não sirvo para nada,
e como sonhei tanto que já não sou desse mundo,
aqui estou, entre as inocentes almas da sala 18,
me persuadindo dia a dia
de que a sala, as almas puras e eu, temos sentido, temos destino,
– uma senhora originária do mais escuro bairro de um povo que não está no mapa disse:
– O doutor me disse que tenho problemas. Eu não sei. Eu tenho alguma coisa aqui (toca os seios), e uma vontade de chorar que minha nossa!
Nietzsche: “Esta noite terei uma mãe ou deixarei de ser.”
Strindberg: “O sol, mãe, o sol.”
Éluard: “É preciso bater na mãe enquanto se é jovem.”
Sim, senhora, a mãe é um animal carnívoro que ama a vegetação luxuriosa. Na hora que a pariu abre as pernas, ignorante do sentido de sua posição destinada a dar a luz, a terra, a fogo, a ar,
mas então ela quer voltar a entrar nessa maldita buceta,
depois de haver tentado nascer sozinha tirando minha cabeça por meu útero
(e como não pude, busco morrer e entrar no pestilento covil da oculta ocultadora cuja função é ocultar)
falo da buceta e falo da morte,
tudo é buceta, eu lambi bucetas em vários países e só senti orgulho por meu virtuosismo – a mahatma gandhi da lambida, a Einstein da chupada, a Reich da linguação, a Reik do abrir caminho entre pelos como rabinos desleixados – oh! o gozo da imunda!
Vocês, os mediquinhos da 18 são ternos e até beijam os leprosos, mas se casariam com um leproso?
Um instante de imersão no baixo e no escuro,
sim, disso são capazes,
mas logo vem a vozinha que acompanha os jovenzinhos como vocês:
– Poderia fazer uma piada com tudo isto, não?
E
sim,
aqui no Pirovano
há almas que NÃO SABEM
porquê receberam as visitas das desgraças.
Procuram explicações lógicas os pobrezinhos, querem que a sala – verdadeiro chiqueiro – esteja muito limpa, porque a imundície causa terror, e a desordem, e a solidão dos dias vazios habitados por antigos fantasmas migrantes das maravilhosas e ilícitas paixões da infância.
Oh, eu beijei tantas picas para me encontrar de repente numa sala cheia de carne prisão onde as mulheres vêm e vão falando da melhora.
Mas
curar o quê?
e por onde começar a curar?
É verdade que a psicoterapia em sua forma exclusivamente verbal é quase tão bela como o suicídio.
Fala-se.
Enfeita-se o cenário vazio de silêncio.
Ou, se há silêncio, ele se torna mensagem.
Por que está calada? Em que pensa?
Não penso, ao menos não executo o que chamam pensar. Assisto o inesgotável fluir do murmúrio. Às vezes – quase sempre – estou molhada.
Sou uma cachorra, apesar de Hegel. Queria um tipo com uma pica assim, me comendo e metendo até que venham curandeiros (que sem dúvida me chuparão) para me exorcizar e encontrar uma boa frigidez.
Molhada.
Buceta de coração de criatura humana,
coração que é um pequeno bebê inconsolável,
“Como uma criança recém-amamentada, acalmei a minha alma” (Salmo)
Ignoro o que faço na sala 18 salvo honrá-la com minha presença prestigiosa (se me amassem um pouquinho me ajudariam a anulá-la)
oh, não é que eu queira flertar com a morte
eu quero somente por fim a esta agonia que se torna ridícula à força de se prolongar,
(Ridiculamente te enfeitaram para este mundo – disse uma voz com pena de mim)
E
Que te encontre com você mesma – disse.
E eu respondi:
Para me reunir com o migo de comigo e ser uma só e mesma entidade com ele tenho que matar o migopara que assim morra o com e, deste modo, anulados os contrários, a dialética suplicante finaliza na fusão dos contrários.
O suicídio determina
uma faca sem lâmina
e sem cabo.
Então:
adeus sujeito e objeto,
tudo se unifica como em outros tempos, no jardim dos contos infantis repleto de riachos de águas frescas pré-natais,
esse jardim é o centro do mundo, é o lugar do encontro, é o espaço tornado tempo e o tempo tornado lugar, é o alto momento da fusão e do encontro,
fora do espaço profano onde o Bem é sinônimo de evolução de sociedades de consumo,
e longe dos esmerdiados simulacros de medir o tempo através de relógios, calendários e demais objetos hostis,
longe das cidades em que se compra e se vende (oh, nesse jardim para a menina que fui, a pálida alucinada nos subúrbios mórbidos por onde errava de braço com as sombras: menina, minha querida menina que não teve mãe (nem padre, é óbvio)
De modo que arrastei meu rabo até a sala 18,
onde finjo acreditar que minha doença de alheamento, de separação de absoluta NÃO-ALIANÇA com Eles
– Eles são todos e eu sou eu
finjo, então, que consigo melhorar, finjo acreditar nesses rapazes de boa vontade (oh, os bons sentimentos!), que podem me ajudar,
mas às vezes – muitas vezes – esporro eles desde minhas sombras interiores que estes medicozinhos jamais saberão conhecer (a profundidade, quanto mais profunda, mais indizível) e os esporro porque evoco meu amado velho, o Dr. Pichón R., tão filho da puta como nunca será nenhum dos mediquinhos (tão bons, ah!) desta sala,
mas meu velho morre e estes falam e, o pior, estes têm corpos jovens, sãos (maldita palavra) desde que meu velho agoniza na miséria por não ter sabido ser um merda prático, por ter afrontado o terrível mistério que é a destruição de uma alma, por ter vasculhado no oculto como um pirata – não pouco funesto pois as moedas de ouro do inconsciente levavam carne de enforcado, e num recinto cheio de espelhos quebrados e sal derramado –
velho maldito, espécie de aborto pestilento de fantasmas sifilíticos, como te adoro em tua tortuosidade somente parecida à minha,
e cabe dizer que sempre desconfiei de teu gênio (não é genial; é um saqueador e um plagiador) e ao mesmo tempo confiei em você,
oh, a você meu tesouro foi confiado,
te amo tanto que mataria todos esses médicos adolescentes para te dar a beber seu sangue e que vivesse um minuto, um século mais,
(você, eu, a quem a vida não nos merece)
Sala 18
Quando penso em laborterapia me arrancaria os olhos em uma casa em ruínas e os comeria pensando em meus anos de escrita contínua,
15 ou 20 horas escrevendo sem parar, aguçada pelo demônio das analogias, tratando de configurar minha atroz matéria verbal errante,
porque – o velho formoso Sigmund Freud – a ciência psicanalítica esqueceu a chave em algum lado:
abrir se abre
mas como fechar a ferida?
A alma sofre sem trégua, sem piedade, e os malditos médicos não estancam a ferida que supura.
O homem está ferido por um dilaceramento que talvez, ou seguramente, lhe causou a vida que nos dão.
“Mudar a vida” (Marx)
“Mudar o homem” (Rimbaud)
Freud:
“A pequena A. Esta embelezada pela desobediência”, (Caratas…)
Freud: poeta trágico. Demasiado apaixonado pela poesia clássica.
Sem dúvida, extraiu muitas chaves dos “filósofos da natureza”, dos “românticos alemães” e, sobretudo, do meu amadíssimo Lichtenberg, o gênio físico e matemático que escrevia em seu Diário coisas como:
“Ele colocou nomes em suas duas pantufas”
Estava solitário, não?
(Oh, Lichtenberg, pequeno corcunda, eu teria te amado!)
E a Kierkegaard
E a Dostoiévski
E sobretudo a Kafka
a quem aconteceu o mesmo que a mim, se bem que ele era pudico e casto
– “O que fiz do dom do sexo?” – e eu sou uma masturbadora como não existe outra;
mas aconteceu (a Kafka) o mesmo que a mim:
se separou
foi demasiado longe na solidão
e soube – teve que saber –
que dali não se volta
se afastou – me afastei –
não por desprezo (claro que nosso orgulho é infernal)
mas porque uma é estrangeira
uma é de outra parte,
eles se casam,
procriam,
têm horários,
não se assustam pela tenebrosa
ambiguidade da linguagem
(Não é o mesmo dizer Boa noite que dizer Boa noite)
A linguagem
– eu não posso mais,
alma minha, pequena inexistente,
decida-se;
se manda ou fica,
mas não me toque assim,
com pavor, com confusão,
ou vai embora ou se manda,
eu, por minha parte, não posso mais.
*
[1] (N.E.) AP escreveu este poema durante sua estadia no Hospital Pirovano. O texto, tal como se reproduz, está datilografado e leva correções feitas a mão pela autora. Não se incluiu na edição de 1982 de seus textos póstumos.
Quiero decir París, Saint-Tropez, Cap St. Pierre, Provence, Florencia, Siena, Roma, Capri, Ischia, San Sebastián, Santillana del Mar, Marbella, Segovia, Ávila, Santiago,
y tanto y tanto
por no hablar de New York y del West Village con rastros de muchachas estranguladas
quiero que me estrangule un negro – dijo
lo que querés es que te viole – dije (¡oh Sigmund! con vos se acabaron los hombres del mercado matrimonial que frecuenté en las mejores playas de Europa)
y como soy tan inteligente que ya no sirvo para nada, y como he soñado tanto que ya no soy de este mundo, aquí estoy, entre las inocentes almas de la sala 18, persuadiéndome día a día
de que la sala, las almas puras y yo tenemos sentido, tenemos destino,
una señora originaria del más oscuro barrio de un pueblo que no figura en el mapa dice:
El dotor me dijo que tengo problemas. Yo no sé. Yo tengo algo aquí (se toca las tetas) y unas ganas de llorar que mama mía.
Nietzsche: “Esta noche tendré una madre o dejaré de ser.” Strindberg: “El sol, madre, el sol.”
Éluard: “Hay que pegar a la madre mientras es ”
Sí, señora, la madre es un animal carnívoro que ama la vegetación lujuriosa. A la hora que la parió abre las piernas, ignorante del sentido de su posición destinada a dar a luz, a tierra, a fuego, a aire,
pero luego una quiere volver a entrar en esa maldita concha,
después de haber intentado nacerse sola sacando mi cabeza por mi útero
(y como no pude, busco morir y entrar en la pestilente guarida de la oculta ocultadora cuya función es ocultar)
hablo de la concha y hablo de la muerte,
todo es concha, yo he lamido conchas en varios países y sólo sentí orgullo por mi virtuosismo – la mahtma gandhi del lengüeteo, la Einstein de la mineta, la Reich del lengüetazo, la Reik del abrirse camino entre pelos como de rabinos desaseados – ¡oh el goce de la roña!
Ustedes, los mediquitos de la 18 son tiernos y hasta besan al leproso, pero
¿se casarían con el leproso?
Un instante de inmersión en lo bajo y en lo oscuro, sí, de eso son capaces,
pero luego viene la vocecita que acompaña a los jovencitos como ustedes:
¿Podrías hacer un chiste con todo esto, no? Y
sí,
aquí en el Pirovano
hay almas que NO SABEN
porqué recibieron la visita de las desgracias.
Pretenden explicaciones lógicas los pobres pobrecitos, quieren que la sala – verdadera pocilga – esté muy limpia, porque la roña les da terror, y el desorden, y la soledad de los días vacíos habitados por antiguos fantasmas emigrantes de las maravillosas e ilícitas pasiones de la infancia.
Oh, he besado tantas pijas para encontrarme de repente en una sala llena de carne prisión donde las mujeres vienen y van hablando de la mejoría.
Pero
¿qué cosa curar?
Y ¿por dónde empezar a curar?
Es verdad que la psicoterapia en su forma exclusivamente verbal es casi tan bella como el suicidio.
Se habla.
Se amuebla el escenario vacío del silencio. O, si hay silencio, éste se vuelve mensaje.
¿Por qué está callada? ¿En qué piensa?
No pienso, al menos no ejecuto lo que llaman pensar. Asisto al inagotable fluir del murmullo. A veces – casi siempre- estoy húmeda.
Soy una perra, a pesar de Hegel. Quisiera un tipo con una pija así y cogerme a mí y dármela hasta que acabe viendo curanderos (que sin duda me la chuparán) a fin de que me exorcicen y me procuren una buena frigidez.
Húmeda
Concha de corazón de criatura humana, corazón que es un pequeño bebé inconsolable,
“Como un niño de pecho he acallado mi alma” (Salmo)
Ignoro qué hago en la sala 18 salvo honorarla con mi presencia prestigiosa (si me quisieran un poquito me ayudarían a anularla)
oh no es que quiera coquetear con la muerte
yo quiero solamente poner fin a esta agonía que se vuelve ridícula a fuerza de prolongarse,
(Ridículamente te han adornado para este mundo –dice una voz apiadada de mí)
Y
Que te encuentres con vos misma –dijo. Y yo le dije:
Para reunirme con el migo de conmigo y ser una sola y misma entidad con él tengo que matar al migo para que así se muera el con y, de este modo, anulados los contrarios, la dialéctica supliciante finaliza en la fusión de los contrarios.
El suicidio determina un cuchillo sin hoja
al que le falta el mango. Entonces:
adiós sujeto y objeto,
todo se unifica como en otros tiempos, en el jardín de los cuentos para niños lleno de arroyuelos de frescas aguas prenatales,
ese jardín es el centro del mundo, es el lugar de la cita, es el espacio vuelto tiempo y el tiempo vuelto lugar, es el alto momento de la fusión y del encuentro,
fuera del espacio profano en donde el Bien es sinónimo de evolución de sociedades de consumo,
y lejos de los enmierdantes simulacros de medir el tiempo mediante relojes, calendarios y demás objetos hostiles,
lejos de las ciudades en que se compra y se vende (oh, en ese jardín para la niña que fui, la pálida alucinada en los suburbios malsanos por los que erraba del brazo de las sombras: niña, mi querida niña que no has tenido madre (ni padre, es obvio)
De modo que arrastré mi culo hasta la sala 18,
en la que finjo creer que mi enfermedad de lejanía, de separación de absoluta NO-ALIANZA con Ellos
Ellos son todos y yo soy yo
finjo, pues, que logro mejorar, finjo creer a estos muchachos de buena voluntad (¡oh, los buenos sentimientos!) me podrían ayudar,
pero a veces – a menudo – los recontraputeo desde mis sombras interiores que estos mediquillos jamás sabrán conocer (la profundidad, cuanto más profunda, más indecible) y los puteo porque evoco a mi amado viejo, el Dr. Pichón R., tan hijo de puta como nunca lo será ninguno de los mediquitos (tan buenos, hélas!) de esta sala,
pero mi viejo se muere y éstos hablan y, lo peor, éstos tienen cuerpos nuevos, sanos (maldita palabra) en tanto mi viejo agoniza en la miseria por no haber sabido ser una mierda práctico, por haber afrontado el terrible misterio que es la destrucción de un alma, por haber hurgado en lo oculto como un pirata – no poco funesto pues las monedas de oro de inconsciente llevaban carne de ahorcado, y en un recinto lleno de espejos rotos y sal volcada –
viejo remaldito, especie de aborto pestífero de fantasmas sifilíticos, cómo te adoro en tu tortuosidad solamente parecida a la mía,
y cabe decir que siempre desconfié de tu genio (no son genial; sos un saqueador y un plagiario) y a la vez te confié,
oh, es a vos que mi tesoro fue confiado,
te quiero tanto que mataría a todos estos médico adolescentes para darte a beber de su sangre y que vos vivas un minuto, un siglo más,
(vos, yo, a quienes la vida no nos merece)
Sala 18
Cuando pienso en laborterapia me arrancaría los ojos en una casa en ruinas y me los comería pensando en mis años de escritura continua,
15 o 20 horas escribiendo sin cesar, aguzada por el demonio de las analogías, tratando de configurar mi atroz materia verbal errante,
porque – oh viejo hermoso Sigmund Freud – la ciencia psicoanalítica se olvidó la llave en algún lado:
abrir se abre
pero ¿cómo cerrar la herida?
El alma sufre sin tregua, sin piedad, y los malos médicos no restañan la herida que supura.
El hombre está herido por una desgarradura que tal vez, o seguramente, le ha causado la vida que nos dan.
“Cambiar la vida” (Marx) “Cambiar al hombre (Rimbaud) Freud:
“La pequeña A. Está embellecida por la desobediencia”, (Cartas…)
Freud: poeta trágico. Demasiado enamorado de la poesía clásica.
Sin duda, muchas claves las extrajo de “los filósofos de la naturaleza”, de “los románticos alemanes” y, sobre todo, de mi amadísimo Lichtenberg, el genial físico y matemático que escribía en su Diario cosas como:
“Él le había puesto nombres a sus dos pantuflas” Algo solo estaba ¿no?
(¡Oh, Lichtenberg, pequeño jorobado, yo te hubiera amado!) Y a Kierkegaard
Y a Dostoyevski
Y sobre todo a Kafka
a quien le pasó lo que a mí, si bien él era púdico y casto
“¿Qué hice del don del sexo?” – y yo soy una pajera como no existe otra;
pero le pasó (a Kafka) lo que mí:
se separó
fue demasiado lejos en la soledad y supo – tuvo que saber –
que de allí no se vuelve
se alejó – me alejé –
no por desprecio (claro es que nuestro orgullo es infernal) sino porque una es extranjera
una es de otra parte, ellos se casan, procrean,
veranean, tienen horarios,
no se asustan por la tenebrosa ambigüedad del lenguaje
(No es lo mismo decir Buenas noches que decir Buenas noches)
El lenguaje
yo no puedo más,
alma mía, pequeña inexistente, decídete;
te las picás o te quedás, pero no me toques así,
con pavura, con confusión, o te vas o te las picás,
yo, por mi parte, no puedo más.
[1] AP escribió este poema durante su estadía en el Hospital Pirovano. El texto, tal como se reproduce, está mecanografiado y lleva correcciones hechas a mano por la autora. No se había incluido en la edición de 1982 de sus textos póstumos.
Alejandra Pizarnik vestida de Hilda la Polígrafa, com Arturo Carrera
Bar Florida, 22 de agosto [1955], 14h
[…] Quando ia pra a escola, um sopro de esperança me inundou. Me vi caminhando, sentindo, olhando. E disse a mim mesma: Sou feliz porque estou viva! Sou feliz de poder caminhar e ir pra onde quero! Sou feliz porque não estou morta, porque sou jovem, porque criarei beleza, porque devo muito à vida, porque sinto que algo muito grande me chama!
Por que não me acomodo num lugarzinho tranquilo e me caso e tenho filhos e vou ao cinema, à uma confeitaria, ao teatro? Por quê sofro e me martirizo com os espectros de minha fantasia? Por quê insisto no chamado? Por quê faço análise? Por quê não me esqueço da minha alma e não espremo o lencinho úmido lendo Corpos e almas? Por quê não me visto com elegância e passeio por Santa Fé de braços com meu namorado? Ah! Sei que a vida é muito breve. Sei que não sou eterna. Mas, na realidade, não vejo a morte. Vejo ela distante. Digo quarenta anos, mas não os vejo. Vejo um espaço imenso. Vejo milhares de dias. Sei que há tempo. Sei que tenho tempo. Sei que amo minha alma. Me amo. Amo meu corpo e o beijaria porque é meu. Amo meu rosto tão desconhecido e estranho. Amo minhas mãos infantis. Amo minha letra tão clara. (Que estranho que minha letra seja legível!)
É muito tarde. Estou excitada. Desejo um corpo junto ao meu. Qualquer um! Qualquer sexo, qualquer idade. Isso é o de menos! Basta um corpo a quem tocar e que me toque. Meu sangue galopa! Ah! Desejo fervente. Me dissolvo em desejos eróticos. Nada de amor. Não. Nada disso. Sim! O que eu queria era viver minha vida diurna entre livros e papéis e passar as noites junto a um corpo. Esse é meu ideal. É lascivo? É luxurioso? É estúpido? É impossível? É meu!!! E isso basta! […]”
Texto: Diário de Alejandra Pizarnik; Tradução de Nina Rizzi
_______________
“[…] Cuando iba camino hacia la escuela, un soplo de esperanza me inundó. Me vi caminando, sintiendo, mirando. Y me dije: ¡Soy feliz porque estoy viva! ¡Soy feliz de poder caminar y desplazarme hacia donde quiero! ¡Soy feliz porque no estoy muerta, porque soy joven, porque crearé belleza, porque debo a la vida mucho, porque siento que me llama algo muy grande!
¿Por qué no me ubico en un lugarcito tranquilo y me caso y tengo hijos y voy al cine, a una confitería, al teatro? ¿Por qué sufro y me martirizo con los espectros de mi fantasía? ¿Por qué insito en el llamado? ¿Por qué me analizo? ¿Por qué no me olvido de mi alma y no estrujo el pañuelito húmedo leyendo Cuerpos y almas? ¿Por qué no me visto con elegancia y paseo por Santa Fe del brazo de mi novio? ¡Ah! Sé que la vida es muy breve. Sé que no soy eterna. Pero, en realidad, no veo la muerte. La veo lejana. Digo cuarenta años pero no los veo. Veo un espacio inmenso. Veo millares de días. Sé que hay tiempo. Sé que tengo tiempo. Sé que amo mi alma. Me amo a mí. Amo mi cuerpo y lo besaría todo porque es mío. Amo mi rostro tan desconocido y extraño. Amo mis ojos sorprendentes. Amo mis manos infantiles. Amo mi letra tan clara. (¡Qué extraño que mi letra sea legible!)
Es muy tarde. Estoy excitada. Deseo un cuerpo junto al mío. ¡Cualquiera! Cualquier sexo, cualquier edad. ¡Eso es lo de menos! Basta un cuerpo a quien tocar y que me toque. ¡Mi sangre galopa! ¡Ah! Deseo ferviente. Me disuelvo en deseos eróticos. Nada de amor. No. Nada de eso. ¡Sí! Lo que yo quisiera es vivir mi vida diurna entre libros y papeles y pasar las noches junto a un cuerpo. Ése es mi ideal. ¿Es lascivo? ¿Es lujurioso? ¿Es estúpido? ¿Es imposible? ¡¡¡Es mío!!! Y con eso basta.
Alejandra Pizarnik e amigos (não identificados) na praia.
1
O mar fez cosquinhas numa mulher que saiu gritando: “Encontrei uma fantasma! Encontrei um fantasma!
2
As ondas flertam com o sol… mas os molhes observam e depois comentam, com o grande escândalo de um velho polvo.
3
O mar queria arrancar meu maiô para me tocar os seios; eu não deixei porque ainda não existe “confiança” entre nós.
4
Uma criança chorava porque a onda o mordeu; ela, de longe, sorria travessa…
5
O mar não sabe de onde vem nem pra onde vai, apesar das mil teorias a respeito.
6
Essa onda pisou a sombra de um homem, que fugiu envergonhado.
7
O mar gritou de alegria quando um pássaro de papel encarnado pisou sua espuma.
8
O mar assina com seu pseudônimo [falta texto].
9
Todos os anos o mar realiza um ato de alegria. A causa: a possessão de sua amada Alfonsina Storni.
10
Quando olho o mar, o sol sente ciúmes e me aperta os olhos.
11
Pensei que era uma onda acendendo um cigarro: depois vi o barco.
12
O mar se enroscou no corset de uma mulher, enquanto as ondas morriam de rir.
13
O salva-vidas é o brinco dessa onda namoradeira.
14
As ondas lutam no crepúsculo, cansadas, cheias de sonho.
15
Uma onda arrastou um sapato velho. Um senhor o colocou e disse “obrigado”. A onda estendeu a mão à espera da “gorjeta”.
16
Quando o atleta entrou no mar, uma onda, puritana, abaixou sua calça.
17
Comovia aquela ondinha que tinha medo de saltar.
18
O mar esfrega seus olhos todas as manhãs, quando o barco toma café com leite, e os cassetetes [ilegível] e se maquiam com geleia.
19
Nos carnavais, o mar é rebaixado à categoria de objeto: o viram e o jogam sobre os corpos, e ele se envergonha desses gritos de terror das mulheres gordas.
20
Uma onda se suicidou ao ver seu retrato tremulando [falta texto].
Texto: Diario de Alejandra Pizarnik; Tradução de Nina Rizzi
______________
1
El mar le hizo cosquillas a una mujer que salió gritando: “¡Encontré un fantasma! ¡Encontré un fantasma!”
2
Las olas flirtean con el sol… pero las escolleras observan y luego lo comentan, con gran escándalo de un viejo pulpo.
3
El mar quería sacarme el traje de baño para tocar mis pechos; yo no lo dejé pues aún no existe “confianza” entre nosotros.
4
Un niño lloraba porque lo mordió una ola; ésta, de lejos, sonreía traviesa…
5
El mar no sabe de dónde viene ni adónde va, a pesar de ls mil teorías al respecto.
6
Esa ola pisó la sombra de un hombre, que huyó avergonzado.
7
El mar gritó de alegría cuando un pájaro de papel rojo le pisó la espuma.
8
El mar firma con su pseudónimo [falta texto].
9
Todos los años el mar realiza un acto de alegría. La causa: la posesión de su amada Alfonsina Storni.
10
Cuando miro el mar, el sol se siente celoso y me oprime los ojos.
11
Pensé que era una ola encendiendo un cigarro: luego vi el barco.
12
El mar se enredó en el corset de una mujer, mientras las olas se morían de risa.
13
El salvavidas es el pendiente de esa ola tan coqueta.
14
Las olas luchan en el crepúsculo, cansadas, llenas de sueño.
15
Una ola arrastró un zapato viejo. Un señor se lo puso y le dijo “gracias”. La ola tendió la mano a la espera de la “propina”.
16
Cuando el atleta entró en el mar, una ola, pudorosa, se bajó la falda.
17
Conmovía aquella olita que tenía miedo de saltar.
18
El mar se restrega los ojos todas las mañanas, cuando el barco toma el café con leche, y las lumas se [ilegible] y se maquillan con mermelada.
19
En los carnavales, el mar es humillado a la categoría de objeto: lo revuelven y tiran sobre los cuerpos, y a él le da vergüenza esos aullidos de terror de las mujeres gordas.
20
Un ola se suicidó al ver su retrato tremolando [falta texto].
Não vejo revoluções nos olhares dos passageiros deste ônibus
vejo democracias tão partidas como as mãos dos trabalhadores
que acumulam raiva nas garrafas para bebê-las nos assentos traseiros
vejo olhares tão longos como o número de taxas bancárias
deixando nas janelas o vapor dos bailes interrompidos.
Entre tanta liberdade — dos mercados ou que seja —
ficamos cada vez mais presos, como perfeita conciliação
de um livro que se queima
a si mesmo.
***
Há que se inventar o incêndio de uma cidade que não existe, para sair da alienação da que, sim, existe.
***
Estação Constituição, Buenos Aires
Toda cidade guarda em suas entranhas
ruas e curvas de outras cidades
aloja pedaços de mar
para nos refrescar
em lugares distantes da costa
deixamos que o calor do vale
toque nossa pele
como longa sucessão de ondas
em algum litoral em pleno inverno
toda cidade contém
os semáforos de Punta Arenas
que piscam na madrugada
pela rua Chiloé
mas nada disso me bastava
se nenhuma cidade contivesse tua mão
me guiando pelas plataformas
da estação Temperley
***
Jorge Luis Navarro Honores (Chileno, 1986. Bibliotecário e livreiro, vive em Buenos Aires). Os poemas acima integram seu último livro ‘Instruciones para incendiar una ciudad’.
________________________________
Instruciones para incendiar una ciudad
Ama a tu ciudad como si fuera tu sangre
pero no temas
a los cuchillos de las esquinas
porque inevitablemente
sabrán llegar
a tu carne
ama con rabia a sus habitantes
describe sus movimientos
utiliza tu libreta de notas como atizador
lleva un catastro
de todos los desastres cotidianos
que veas al pasar
comprende que la soledad y el dolor
también se reflejan en las vitrinas
sus luces encandilan
al igual que el brillo
que provocan los pisos encerados
de los supermercados.
***
No veo revoluciones en las miradas de los pasajeros de este bus
veo democracias tan partidas como la mano de los obreros
que acumulan rabia en las botellas para beberlas en los asientos traseros
veo miradas tan largas como número de cuotas bancarias
dejando en las ventanillas el vaho de los bailes interrumpidos.
Entre tanta libertad –de los mercados o lo que fuera–
quedamos cada vez más presos, como perfecta compaginación
de un libro que se quema
a sí mismo.
***
Hay que inventarse el incendio de una ciudad que no existe, para salir de la alienación de la que sí existe.